Dizer e escrever

Há já algum tempo que não escrevo nada neste blog. Não é que não houvesse nada para se dizer. Há sempre tanto para se dizer... No entanto, há uma diferença entre dizer e escrever. E a diferença está que nem tudo o que se diz tem o mérito suficiente para ser escrito. Quando escrevemos assumimos um compromisso que fica bem claro e à vista sobre o papel. E negar o que escrevemos é inútil pelas óbvias razões que um escrito não se escreve sozinho. No entanto, o suporte do que dizemos é o ar e este é sujeito à vontade do vento. Não podemos assumir um compromisso com o ar se ele de nós próprios está fugindo. O papel esse mantém-se paciente sobre a mesa, fitando-nos por dentro a alma, com olhos que não são olhos mas que tudo vêem do que há para ser visto em nós. E nessa cumplicidade, eterna cumplicidade, se move o homem à escrita, num monólogo tornado diálogo que dura o tempo que tem que durar pois o papel nunca foge. Só um homem descuidado deixaria o vento levar o papel sobre o qual escreve. Para o ar, no entanto, não existem mãos nem meios que o agarrem e o desprendam do vento. Só ao papel podemos confiar a alma. Escolhemos então melhor as palavras que a descrevam porque escrever é uma responsabilidade enorme...

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