O que aprendi no ano 2012


Sempre que um ano das nossas vidas passa, damos por nós a reflectir um pouco sobre a natureza do tempo. É uma reflexão natural que nasce de um dever moral, íntimo da alma, que o ser humano tem de se dar conta de si próprio e da posição que ocupa em relação ao seu tempo de vida. A questão do tempo é uma questão tão inultrapassável quanto o próprio tempo. É sobejamente conhecida a frase do Santo Agostinho que dizia sabiamente o seguinte: “se não me perguntarem o que é o tempo, então eu sei bem o que é, mas se de repente alguém me pergunta o que é o tempo, então já não sei”. Interpreto estas palavras da seguinte forma: o tempo é-nos inerente tal como o nosso subconsciente, somos fruto de um e outro, ambos nos pertencem sem que os saibamos descrever ou definir. Quem poderá definir com exactidão, isto é, estabelecer os limites onde começa e acaba a parte de si próprio que é subconsciente? No entanto, é-nos inerente, está em nós e faz de nós uma parte do que somos, sendo que a totalidade de nós próprios será para sempre um dos maiores mistérios insolúveis da vida. A consciência, por seu turno, é objectivável e definível dado que os nossos pensamentos se colam à linguagem e esta, por seu turno, é a que nos relata o que pensamos conscientemente.  Consequentemente, o tempo é indefinível porque está em nós e em mais lado nenhum. O tempo é uma parte do nosso ser no mundo que nos é dada a conhecer pelo meio da consciência. Daí que a noção de tempo só existe para aquele que se sente existir. A eternidade, a verdadeira eternidade, é uma fuga ao tempo, uma fuga a nós próprios que nos sentimos ser. De uma forma um pouco fantasista, se ninguém sentisse o tempo talvez o tempo não existisse e, sendo assim, talvez este não seja mais do que uma forma de nos sentirmos mudar numa facticidade que se altera continuamente. E é curioso analisar que toda a gente admite que a mudança é contínua, ininterrupta. Nada no mundo ou no Universo deixa de mudar. No entanto, o conceito de continuidade é um conceito paradoxal ao de mudança visto que a mudança deveria implicar uma ruptura, o tal “corte com o passado” a que nos referimos muitas vezes coloquialmente, e, portanto, deveria implicar também uma quebra da própria continuidade. Mas tudo flui de forma contínua na tal a metáfora intemporal do rio onde vemos escoar a nossa vida, as mudanças do nosso Eu. Advém deste pressuposto muitas teorias existencialistas: a consciência como elemento de temporalização do Eu. Mas bom, fiquemos apenas com esta ideia velha de que a problemática do tempo é uma problemática intemporal, linguisticamente insolúvel como nos diz o Santo Agostinho e cuja própria essência é misteriosamente duvidosa.

            Voltemos agora ao propósito inicial desta publicação: o que aprendi no meu balanço do ano 2012? Ora, aprendi que sou acima de tudo um grande ignorante e por isso me espera ainda uma bela vida pela frente: cheia de novas descobertas e aprendizagens. Constatei que sábio não é aquele que tem muitos conhecimentos, mas sim aquele que faz uma inteligente gestão dos seus conhecimentos em prol da sua felicidade. Sábio é, portanto, aquele que é feliz sem prejudicar a felicidade dos outros. Os grandes males da humanidade nascem da ignorância dos verdadeiros ignorantes: os que pensam que já sabem tudo e, por saberem tudo, já não obtêm prazer através da aprendizagem das coisas mais simples. Pascal dizia que todos os erros da Humanidade advêm do facto das pessoas não serem capazes de permanecer sozinhas num quarto, num estado de paz interior. Daí que complicam tudo, inventam falsas necessidades, guerras, conflitos, traições e sofrimentos com base em fundamentos ideológicos – pois toda a actividade humana deriva de ideias – cujo único sentido é de inventarem um sentido justificativo para os mais absurdos comportamentos. O mais surpreendente ainda, é que toda a guerra tem como objectivo a paz. E por isso, por vezes, questiono-me sinceramente sobre o que mais matou na história da Humanidade: se foi a guerra ou o conceito erróneo de paz? Pois se este conceito erróneo de paz não existisse, a guerra também não. Ou seja, se esta desejada paz continua a motivar a guerra é porque talvez não é a guerra que está errada, mas sim, a falsa ideia de que leva as pessoas a matar. As pessoas procuram uma paz que não existe e, portanto, aprestam-se a combater. E essa paz não existe por um simples motivo: toda a guerra resulta de uma falta de paz colectiva e esta resulta, por sua vez, de uma falta de paz individual. Daqui voltamos a Pascal: só aquele que tem paz de espírito interior é que é capaz de permanecer tranquilo e feliz num quarto, sozinho, auto-suficiente. A guerra seria impossível num estado colectivo de paz individual. Se cada um fosse feliz tal como é, que lutasse apenas contra as agitações do seu espírito, então aí sim: a paz reinaria neste mundo de sábios, pois sábios são aqueles que são felizes.
            A grande aprendizagem que fiz neste ano em que andei pelo mundo e conheci novas realidades é a de que existe apenas um verdadeiro e justo caminho para a Humanidade: aquele em que cada homem aspira à virtude e ao autoaperfeiçoamento de si próprio, aquele em que cada homem se torna um pouco poeta pois decide fazer da sua vida um poema, visto que todo o poema aspira à verdadeira beleza do mundo. Mas quantos de nós sabemos apreciar realmente o milagre existencial e o poder da palavra que reside num poema? 


Nota importante: este texto não tem como pretensões de ser moralista, pois a moral absoluta nenhum ser humano a tem (ou pela vida errónea que já levou ou pela incerteza da vida que o espera), o que visa, sim, é de ser um agente motivador no cultivo da virtude do ser humano. Quem aspira à virtude aspira a ser boa pessoa.

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