À minha mãe


Hoje a minha mãe faz anos. E que importa o seu nome, a sua idade, onde nasceu, onde cresceu, etc…? Ainda antes de saber tudo isso, já eu a amava. O amor de um filho para com a sua mãe é aquele amor que não precisa de saber rigorosamente nada para existir.  É aquele amor que nasceu para existir para além dos limites da existência. Antes de eu existir já a minha mãe me amava e no dia que ela me deixar eu continuarei a amá-la também. Para sempre.

            O lema deste meu blog é o seguinte: O primeiro lugar onde se chega é geralmente o primeiro de onde se parte. Tudo é uma consequência do que chega e do que parte. Do EU. 

            Ora, a razão pela qual decidi prestar aqui uma homenagem à minha mãe é que, no fundo, o primeiro lugar onde cheguei na vida foi aos braços da minha mãe. Cada milésima consequência da minha vida parte dessa primeira consequência que, no fundo, é a mais importante de todas. E verdade seja dita, das nossas mães estamos sempre a partir e a chegar. Abrigamo-nos no seu interior durante nove meses e depois partimos para a luz do mundo ao mesmo tempo que chegamos às suas mãos. Ao longo de vários anos, repetem-se estes pequenos ciclos de chegada e de partida. Em cada ciclo opera-se uma mudança através da qual crescemos. E quando julgamos ter crescido o suficiente para efectuar a última partida, chegamos à conclusão, mais tarde, que o crescer é afinal algo que vai para bem para além da altura. 

«Estás tão grande! Tu já estás um homem!»

Estas palavras que ouvimos repetidamente enquanto crescemos alimentam-nos a adolescência e quando chegamos à idade adulta acreditamos realmente que já estamos grandes o suficiente para nos considerarmos uns homens. Mas aos olhos das nossas mães continuamos, para sempre, uns meninos. Os tais meninos da mamã.  E de certa forma elas não se enganam: porque agora que tenho 24 anos e olho para coisas que fiz quando tinha 20 anos penso que naquela altura era, de facto, ainda um menino embora me achasse já um “homem”.

Penso que as mães são as árvores da humanidade. De geração em geração, lá estão elas a abrigar, no seu interior, o sopro da vida. Se Deus existe, ele tem seguramente algo de mãe. Só às nossas mães somos capazes de confessar as nossas verdadeiras fraquezas, pois foi a cuidar das nossas fraquezas que elas se ocuparam ao longo de todas as suas vidas. Os pais ocupam-se mais das nossas virtudes, das nossas qualidades, pois é justamente isso que um filho espera de um pai: que esteja lá para o admirar quando for preciso. Um filho passa toda a sua infância a tentar superar, junto da mãe, as suas fraquezas para depois mostrar ao pai o quão forte ele se tornou. O pior que um pai pode fazer é não estar lá nessa altura para dar sentido aos esforços do filho.

Desde que entrei para o curso de medicina já guardo na minha memória várias histórias marcantes de doentes que me foram contadas por outros médicos ou que eu próprio já experienciei no meu contacto hospitalar. Mas de todas as histórias que ouvi ou de que fiz parte, aquela que mais me tocou foi uma história contada pelo Prof. Dr. Fernando Nobre sobre um doente de oitenta e poucos anos cujas últimas palavras na hora do adeus foram:

«A minha mãe? Onde está a minha mãe? Eu quero a minha mãe…»

Esta história arrepiou-me porque traz ao de cima aquilo que há de mais profundo no homem: o eterno desejo de regressar aos braços da sua mãe e de superar, nesse reencontro, a própria morte. Quando analiso a vida e o sentido que faz viver-se, vejo que não existem respostas lógicas ou coerentes. Mas há uma certa intuição que nos guia para a frente. E essa intuição tem algo de feminino, algo de mãe, porque nos dá a segurança suficiente para empreender os primeiros passos na vida e continuar.

E podia dizer muito mais mas acabaria sempre por divagar. Quando penso na minha mãe perco-me na minha infância, na minha adolescência e no momento que vivo agora. No fundo, perco-me dentro de mim próprio sendo que depois é difícil encontrar uma saída. Por isso, vou-me limitar ao essencial que pretendia dizer antes que me perca de todo:

Parabéns mãe. Hoje és a árvore mais distinta entre todas aquelas que dão sentido à Humanidade.

Comentários

  1. Acompanho o teu blog e é de facto fantástica a forma como escreves e exprimes os teus pensamentos. Há algo de existencial neles.

    :)

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  2. Muito obrigado. Saber que tenho quem me leia é um incentivo maior para escrever. Em qualquer caso, se algum dia quiser comentar alguma coisa que escrevi ou também mostrar algum ponto de vista diferente àquele que apresento nalguns dos meus textos, está à vontade para o fazer. No fundo, isto é um espaço aberto à reflexão.

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  3. não há ninguém em quem possamos confiar mais do que na nossa mãe :)

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  4. Ricardo, a tua Mãe merece, do pouco que a conhece é uma pessoa simples e eu gosto de pessoas assim.Ana

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