Culpar-se um inocente para se adquirir a vantagem do prazer

Cruzámos as palavras no silêncio da madrugada e, ao cruzá-las, embatemos num acidente. E não podemos dizer que foi por distracção pois nenhum destes movimentos ocorre sem a plena actuação da consciência  assim como também não podemos dizer que foi por acaso pois todo o movimento resulta do predomínio de uma força dirigida sobre outra menor, colocando, dessa forma, o corpo em marcha contra a inércia. A verdadeira razão ou culpa, como se houvesse uma espécie de razão na culpa ou como se a culpa tivesse a sua própria razão,  nunca ninguém a saberá. O que é certo, isso sim, é que é da natureza humana procurar-se, após um acidente, sempre um culpado. A natureza humana não convive bem com a culpa e o acto de procurar um culpado significa dar o primeiro passo no atestamento da própria inocência. Neste caso em particular, neste acidente fora de horas, o culpado que aqui procuramos, pois assim tem que ser, foi aquele que dá, ou que damos, pelo nome do amor. Julgo que este, ao falar mais alto, fez-nos embater na sua culpa. E os nossos corpos, juntamente embatidos na sua culpa, não mais foram os mesmos. E coitados de nós que éramos, e somos, tão inocentes... 

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