A saudade em terras escocesas



Lisboa aguardava-me ansiosamente iluminada entre as suas colinas de fado. É aqui, nos meandros desta cidade, que a saudade (nuance de sentir pela dor um leve prazer) nasce, cresce e parte para o mundo. Nasce entre o rumor das vielas obliquamente estreitas, das ruas um pouco mais largas, das avenidas corridas no frenesim dos carros, das praças erguidas no sinal duma glória antiga e do Castelo de São Jorge que imponente sempre assiste, entre luzes e sombras, aos movimentos da cidade. E depois a saudade cresce e alarga-se no estuário amplo do Tejo. Sorve o sabor do rio; assiste ao caminhar dos barcos; aprende o diálogo da vela e do vento; e depois, quando chegada a hora, parte de Belém no horizonte infinito duma terra prometida. E embora o mundo não conheça esta palavra como nós, a sua brisa toca realmente no coração de toda a gente. Não admira assim que, mesmo  à distância de Glasgow, eu sentisse a sua brisa tocar em mim. A única diferença entre mim e qualquer outro que por lá andasse é que eu, como bom português e lisboeta, soube dizer:


– Olha a saudade a passar por mim…

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