Depois do sexo. A pergunta.

- Então…Gostaste?

Era a pergunta que ele fazia, sempre, assim que acabava aquilo a que muitos chamam «o serviço». E de facto, ele, mais do que ninguém, encarava aquele jogo íntimo dos corpos como sendo um autêntico serviço. Um serviço que ele esperava e exigia, para si próprio, que fosse de excelência. Talvez a melhor maneira de descrever o homem por detrás desta história será dizer que ele se revia na imagem de um dedicado empregado de mesa que, após corresponder aos exigentes desejos do cliente, se quer inteirar se estes foram, realmente, saciados. E sendo a ironia a mais fiel companheira do cinismo, poderei adiantar que todas as mulheres que entravam no seu restaurante saíam de lá com a mesma impressão. A tal impressão que fazia com que nunca mais lá voltassem. E assim se auto-perpetuava este ritual. O ritual de um empregado que não compreendia que as palavras só servem para se servirem de nós e que o serviço maior que ele poderia oferecer era o de permanecer à espera, em silêncio, que o prato falasse por si. Mas não. Não havia nada que mais lhe pesasse a consciência que não perguntar. É como se, ao não perguntar, estivesse a cometer um descuido grosseiro, imperdoável. Assim, num automatismo de gestos e palavras, após levantar lentamente o prato da mesa, perguntava sempre:

- Então… gostaste?

E da mulher que ali, à sua frente, estivesse ouvia sempre a mesma resposta, após um breve silêncio pensado:

- Sim.

A resposta parecia vir de um lugar tão distante que compreendê-la nitidamente era-lhe, por vezes, difícil. E, por isso, quando as palavras lhe pareciam um pouco desviadas da sua compreensão, voltava a perguntar:

- Mas gostaste mesmo?

E a partir desta pergunta, obtinha uma resposta mais distante ainda. Como quando o cliente já está prestes a se ir embora, a caminho da sua vida que ficou em breve suspensão, lá fora:

- Sim. Gostei.

Com esta resposta, ainda que ainda mais distante e longe da verdade, já podia viver descansado. No seu modo de entender as coisas, se ela não voltava não era porque não tivesse gostado. Haveria de ser por outra coisa qualquer. «Mulheres…ninguém sabe o que elas querem. Se gostam é porque gostam, se não gostam é porque não gostam…». E com esta filosofia, limpava-se de quaisquer remorsos. Ainda que, lá no fundo, desconfiasse que alguma coisa lhe faltava ainda descobrir. Talvez, ao perguntar, mais uma vez ou outra, as vezes que fossem precisas, alguém lhe dissesse, por fim, o que seria. 

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