O diálogo do impossível


Entre eles alargava-se um silêncio pesado. E alargava-se a um tal ponto de os afastar lentamente um do outro. Como se fluísse entre eles um rio crescendo em estuário e cujas margens se olhassem, de longe, na impossibilidade de se tocarem. Ele já tinha dito tudo quanto sentia que podia dizer e ela já tinha ouvido tudo quanto podia, de facto, ouvir. Sim, porque até as palavras mais doces se podem tornar insuportáveis quando se cumprem ao destino do excesso. Pois difícil sempre será a tarefa, em tudo divina, de precisar o que fica aquém ou além do ponto onde a balança se equilibra, onde as palavras entram pela alma como uma suave brisa da primavera que a desperta, em plena renovação, para a vida.


«Que outras palavras te posso dizer senão aquelas que sinto? Como poderei eu enganar-me a mim próprio sem que de tal me aperceba? Como poderei eu substituir-me por alguém menor que não preenche todo o espaço que tu vieste ocupar em mim? Como levar uma vida de belo fingimento: fingindo que bem se diz o que, em boa verdade, não se quer dizer?»

«Inventa. Tu que sempre foste tão bom a inventar: porque não inventas agora algo de novo, algo que não seja teu, que não venha de ti, para me dizeres? Porquê que tanto insistes em me apertar a alma com as palavras que não quero ouvir por, justamente, não as conseguir sentir na beleza irreal com que tu mas dizes?»

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